segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Olha para mim



Estou a ler um livro que é para lá de hilariante aqui fica uma parte:

Os homens são assim. Passam a vida a não reparar. Nunca reparam em nada. Andam de nuvem em nuvem, de olhos fechados. Quando se trata de hi-fi, tralhas mecânicas, trastes de alta precisão, é diferente. Nesse caso, passam a ser uns linces. Passam a ter no olhos lentes de binóculos. Olhos de laser, que reparam nos pormenores. Depois, chegam a casa e transformam-se em toupeiras.


O exemplo clássico é quando a mulher vai ao cabeleireiro. Imaginemos nós, após meses e meses de debate tão solitário que soam a monólogos (porque o facto de cortarmos, ou não, o cabelo lhes interessa menos que a extinção do crocodilo do Nilo), decidimos rapar a cabeleira. Fora. Fora com as tranças macias sobre o peito ofegante e avante com o corte à rapazinho. A ímpar de orgulho, chegamos a casa rapadas como chihuahuas, com cartucheiras de esperança sobre o peito. Ele olha para nós, fala connosco e nem uma ruga. Nada. Nem uma rugazinha das mais pequeninas. E nós, que somos tão tolerantes como as senhoras da Conferência de S. Vicente de Paula, damos-lhe uma ajuda. Não saímos de ao pé deles, na esperança de um encontro aproximado deste tipo dê algum fruto. Nem pensar. Então, começamos a bater com a cabeça no intercomunicador da entrada, por nada, só para atrair a atenção. Népia. Mesmo que nos sentimos cravadas de setas como o S. Sebastião mártir de Mantegna, não desistimos. Passamos a uma coisa mais concreta. Uma pergunta, às tantas. A pergunta clássica: não notas nada? E ele: "Nasceu-te uma verruga no queixo, ou isso é um pedaço de Corn Flakes?" Com o coração cheio de amargura, confessamos: oh, querido... cortei o cabelo, não vês? E ele: " Ah, sim... MAS POUCO." Pouco? Fiquei sem vinte centimetros de pontas duplas! Como é que tenho de chegar a casa para tu reparares, meu grandessissimo labrego? Pelada como a Demi Moore em GI Jane? Porque é que não coses uma inicial no colete, como na Letra Escarlate? Mas, em vez de coseres A de adultério, borda um bonito S, de saloio. Assim, quem te encontrar, poupa trabalho de o descobrir.


Mas, pensando bem, o que é que posso pretender de alguém a quem pedi para me comprar um trajo de noite e me chegou a casa com um pijama; que tem a melodia de Jeeg Robô de Aço no telemóvel; e que, no dia do nosso aniversário, me ofereceu um bolo decorado com o Titanic partido ao meio?



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